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Os verdadeiros solos da Caatinga

Quando o assunto solos da Caatinga vem à mente, é comum que o primeiro pensamento seja a imagem de um chão seco, rachado e infértil. Esse estereótipo foi criado por conta de diversos anos de falta de informações e reproduções de interpretações equivocadas sobre o bioma. Mas os solos do semiárido são muito maiores que isso. 

É importante lembrar que a Caatinga é uma floresta grande e rica, que corresponde a 862.818 km² do território brasileiro e abrange 9 estados: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e o norte de Minas Gerais. Cerca de 28 milhões de pessoas vivem nesses solos e desfrutam de seus recursos naturais, portanto é equivocado reduzi-lo apenas à seca.

E essa abundância também se aplica ao seu solo, ou melhor, solos. Os solos existentes na Caatinga são vários: arenosos, rasos, profundos, pedregosos, com alta e baixa fertilidade. Essa multiplicidade favorece o desenvolvimento de formações de clima, relevo e vegetação de todas as formas. As diferenças de minerais, texturas, profundidades e capacidades de reter água dos solos resultam em uma riqueza biodiversa e fértil.

Por exemplo: nas serras e chapadas o clima é ameno e a umidade é alta por conta das chuvas, as matas são maiores e fechadas e os animais são adaptados para o frio. 

Nas áreas de solos mais raso e pedregoso, é comum o clima mais quente e seco, com plantas de baixo porte (arbustos) e cactáceas que desenvolvem mecanismos para suportar longos períodos sem chuva. Geralmente, estão sob a depressão sertaneja, que é um tipo de relevo mais plano, e os animais são acostumados ao calor.

Também é encontrado na Caatinga um tipo de solo chamado “lajedo”, que atua ecologicamente como um deserto, onde plantas suculentas brotam, como os cactos e as bromélias. 

Os diferentes tipos de solos são resultados de milhares de anos de desenvolvimento, alterações climáticas, diferenças de altitude, movimento dos ventos, presença e ausência de minerais e interferência de seres vivos. São verdadeiras obras de artes feitas pela natureza, que nos ensinam como as mudanças podem trazer resiliência e que cada organismo tem a capacidade de se adaptar da melhor forma ao ambiente onde vive.

Porém, esses solos estão, aos poucos, perdendo qualidade e diversidade por conta, principalmente, de interferências humanas prejudiciais. Ações como queimadas, desmatamento e uso irregular da terra para atividades agropecuárias são exemplos de práticas nocivas que podem causar consequências sérias nos solos e uma das principais problemáticas é a desertificação.

O que é desertificação?

Desertificação é o processo de empobrecimento do solo, causado majoritariamente pela exploração humana exacerbada. No Brasil, esse fenômeno ocorre bastante na Caatinga, em razão do desmatamento da vegetação nativa e utilização de métodos inapropriados em atividades agrícolas, como queimadas, uso de agrotóxicos, erosão, entre outros. 

Com essa degradação, os solos perdem sua fertilidade e ocorre um “efeito dominó” de desequilíbrio ambiental, pois com a falta de minerais e matéria orgânica, a flora não se desenvolve e a fauna se afasta da área por não conseguir se beneficiar. A desertificação também pode causar êxodo rural, visto que prejudica as famílias que moram nesses locais e precisam do solo para garantir o sustento e alimentar os animais.

Esse processo de deterioração é monitorado pelo Laboratório de Análises e Processamento de Imagens de Satélite (Lápis), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).  De acordo com o depoimento de Humberto Barbosa, docente do Instituto de Ciências Atmosféricas (Icat), as “Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD’s) compreendem, atualmente, cerca de 1.340.863 km2, abrangendo 1.488 municípios do Nordeste, além de alguns territórios de Minas Gerais e Espírito Santo”. O professor defende que a educação ambiental é o melhor meio para frear esse avanço.

Para reverter esse cenário e garantir que os solos da Caatinga continuem ricos e diversos, é necessário que as ações humanas sejam conscientes e sustentáveis. Ações como recuperação de áreas degradadas, educação ambiental para crianças e adultos e adoção de tecnologias sociais para boa convivência com o semiárido são exemplos de atitudes adotadas pelo No Clima da Caatinga que buscam preservar os recursos naturais e serviços ecossistêmicos.

O projeto No Clima da Caatinga é realizado pela Associação Caatinga e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

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