
27 nov Entenda como ocorre o desmatamento na Caatinga
A Caatinga tem inúmeras facetas. Por exemplo, ela é o único bioma exclusivamente brasileiro. É a região semiárida mais populosa e biodiversa do mundo, além de abrigar grande riqueza quando se trata de fauna e flora. Em outras palavras: é a floresta que é a cara do Brasil.
Porém, apesar da importância e do valor da Caatinga, nem tudo são flores na região. As principais fontes acadêmicas afirmam, há anos, que cerca de metade da vegetação natural do bioma já foi degradada por ações humanas e o desmatamento está entre as principais causas para esta desoladora conjuntura.
O desmatamento é, segundo o dicionário, um substantivo masculino que indica “limpeza ou retirada de árvores de uma mata ou floresta”. Porém, na vida real, essa palavra tem um significado que vai além do ato de cortar a vegetação natural de uma região. O desmatamento, principalmente para a Caatinga, representa uma tragédia anunciada que, dia após dia, apaga a história do bioma.
Segundo o Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil (MapBiomas), o desmatamento avança semiárido adentro a galopes. A plataforma, que foi criada em 2015, demonstra que, por dia, 120 hectares de Caatinga são desmatados. Em números comparativos é como se, diariamente, florestas do tamanho de 145 campos de futebol fossem derrubadas.
Apenas entre novembro de 2018 e outubro de 2021, a equipe do MapBiomas registrou a derrubada de 130.693 hectares de floresta da Caatinga, ou seja, 1.306 km². Para exemplificar, a área desmatada equivale algo em torno de quatro vezes o território geográfico da cidade de Fortaleza (CE). Ao total, a plataforma emitiu, durante toda a época de monitoramento, 10.432 alertas de desmatamento.
Em um quadro onde 13% do semiárido já está em processo avançado de desertificação, como mostra o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite da Universidade Federal de Alagoas, a sensação que fica é que as florestas da Caatinga são destruídas enquanto a sociedade e as autoridades observam, imóveis, o tombar das árvores.
O implacável avanço do desmatamento contra as florestas da Caatinga tem inúmeras consequências: êxodo rural, empobrecimento do solo, redução da biodiversidade, extinção de animais e plantas, aumento da temperatura global, piora na qualidade de vida da população, redução da umidade do ar, aterramento de rios, lagos e riachos e além, é claro, da própria desertificação.
Outro característica que marca a fragilidade da Caatinga é a falta de Unidades de Conservação (UC) no bioma. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, apenas 8,8% do território da Caatinga está resguardado por UC ‘s, das quais só 6,44% correspondem à categoria de uso sustentável e 2,23% de proteção integral.
Qual a causa do desmatamento na Caatinga?
Não há apenas uma causa para o desmatamento na Caatinga. A derrubada de florestas no Nordeste está associada a diferentes padrões de desenvolvimento econômico. Os motivos vão desde o aumento da pecuária extensiva até a mineração desenfreada e sem precedentes legais.
Outro ponto fundamental para explicar o desmatamento na Caatinga é o uso de lenha como fonte de energia para famílias e empresas de pequeno, médio e grande porte, principalmente as do ramo de biocombustível, carvão, gesso e cerâmica.
Este quadro está associado à pobreza das comunidades rurais e urbanas e à atuação ineficaz das instâncias federais, estaduais e municipais ao fiscalizar e punir indústrias que utilizam lenha advinda de madeireiras ilegais como fonte de energia
Além disso, a falta de pesquisas e a escassez de divulgação científica dificultam a execução de projetos de reflorestamento e de conservação. Em uma breve pesquisa na internet, é possível notar a carência de dados confiáveis sobre o desmatamento na Caatinga, principalmente em comparação a outros biomas do Brasil, como a Amazônia e o Cerrado.
O que fazer para reduzir o desmatamento na Caatinga?
Ao refletir sobre a solução do problema do desmatamento na Caatinga, o reflorestamento é uma das estratégias mais óbvias que vêm à mente. É quase que instintivo: “se há a retirada de vegetação nativa, é só plantar novas árvores”.
Contudo, a recuperação de áreas degradadas não é e nem deve ser a única resposta para o desmatamento. É necessário também entender, a fundo, a atual situação da Caatinga, ou seja, desenvolver projetos e pesquisas públicas sobre as principais razões socioeconômicas que levam alguém a derrubar um amontoado de árvores, seja por necessidade ou por interesses financeiros.
Dessa forma, será possível criar políticas públicas de educação ambiental, de geração de renda, de incentivo à exploração sustentável do bioma e de substituição da lenha como matriz energética.
Além disso, a reposição de projetos e de funcionários de órgãos ambientais, como o IBAMA, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), é fundamental para garantir o monitoramento, a fiscalização e a punição adequada para cada alerta de desmatamento.
Outra possibilidade é aprovar novas legislações que versem sobre a conservação do semiárido, como, por exemplo, a PEC 504/10 que propõe a inclusão do Cerrado e da Caatinga entre os biomas considerados patrimônio nacional do Brasil. O Projeto de Emenda Constitucional já está pronto para votação no Plenário da Câmara dos Deputados.
O que o No Clima da Caatinga faz para combater o desmatamento?
Com o objetivo de diminuir os efeitos potencializadores do aquecimento global, o projeto No Clima da Caatinga, que é realizado pela Associação Caatinga e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, desenvolve atividades de combate direto e indireto ao desmatamento no semiárido.
Por meio da execução do projeto, a equipe do No Clima da Caatinga já contribuiu para a criação de seis Reservas Particulares do Patrimônio Natural e evitou a emissão de 334.977,24 toneladas de gás carbônico.
Além disso, na quarta fase do projeto, a equipe do No Clima da Caatinga vai produzir, plantar e monitorar 5 mil mudas de espécies nativas da caatinga. A área beneficiada será a Reserva Natural Serra das Almas, unidade de conservação gerida pela Associação Caatinga desde 2000, a área possui 6.285 hectares de extensão e está localizada entre as cidades Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI).
O projeto atua por meio de sete eixos: gestão e criação de unidades de conservação, restauração florestal, educação ambiental, disseminação de tecnologias sociais de convivência com o semiárido, o fomento à pesquisa científica, incentivo a políticas públicas socioambientais, além de campanhas de comunicação.