Conheça a fauna da Serra das Almas, a maior unidade de conservação privada do Ceará.

Quando se fala sobre a fauna da Caatinga é comum que a primeira imagem formada na cabeça seja uma carcaça de boi, um jumentinho bem magro ou um calango torrando no sol sobre um chão rachado, com cactos em volta. Alguns podem até lembrar de uma ou outra espécie de pássaro, quem sabe um preá, mas o estereótipo de seca, pobreza e miséria costuma estar presente.

Isso acontece pela falta de estudos científicos que durante anos prejudicaram o bioma da Caatinga, fazendo com que informações equivocadas ou baseadas em senso comum prevalecessem. Esse descaso também contribuiu para a falta de ações de conservação. Mas quem se prende a conceitos formados por clichês, está perdendo a oportunidade de conhecer uma das florestas semiáridas mais biodiversas do mundo.

A realidade é que a fauna da Caatinga é muito rica e formada por várias espécies diferentes, cada uma com o seu papel na floresta. No total são: 548 espécies de aves, 386 de peixes, 196 de répteis, 133 de mamíferos, 98 de anfíbios, 276 de formigas, 94 de abelhas e 93 de aranhas. Esses animais se adaptaram perfeitamente às condições da caatinga e desenvolveram uma capacidade que os seres humanos ainda estão aprendendo: a boa convivência com o semiárido.

 

 

Por isso, projetos como o No Clima da Caatinga realizam ações que conscientizam sobre a importância desse bioma para os serviços ecossistêmicos, que são essenciais para o nosso bem-estar. Uma dessas ações é o monitoramento da fauna, que acontece na Reserva Natural Serra das Almas (RNSA),  unidade de conservação localizada entre os municípios de Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI). 

A RNSA é a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Ceará com 6.285 hectares de extensão. A área é reconhecida pela Unesco como Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Caatinga por abrigar uma representativa área de caatinga preservada e pela sua interação com as comunidades rurais do seu entorno. Possui quatro nascentes, 230 espécies de aves, 45 de répteis, 323 de plantas, 33 de anfíbios e 45 de mamíferos. Também evita o escoamento de 1,5 bilhão de litros de água e estoca quase 600 mil toneladas de carbono, além de sequestrar, anualmente, mais de 23 mil toneladas de carbono da atmosfera.

O monitoramento da fauna tem o objetivo de acompanhar e registrar os animais da RNSA, especialmente felinos e primatas. A ideia é entender a distribuição dessas espécies no interior da reserva e ampliar o banco de imagens. Esses registros são feitos por meio de armadilhas fotográficas, câmeras com sensores de movimento posicionadas em locais estratégicos que captam imagens e vídeos dos animais da Reserva sem interferência humana.  Veja algumas imagens da fauna da RNSA:

 

Pesquisa sobre a fauna da Serra das Almas

Para Gilson Miranda, Coordenador de Conservação do No Clima da Caatinga, essas câmeras são fundamentais para auxiliar ações de conservação e atividades científicas:

“As imagens das armadilhas colaboram com estudos e pesquisas, o que aumenta as possibilidade de ações de preservação e ajuda na criação e desenvolvimento de projetos para a proteção de seus habitats naturais.”

Um exemplo de pesquisa é o Projeto Guariba, iniciativa dedicada à conservação de espécies de primatas ameaçadas de extinção no Nordeste do Brasil, realizada por Robério Freire Filho, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O projeto localizou dentro da RNSA um grupo de Guaribas-da-Caatinga (Alouatta ululata), espécie de primata ameaçada de extinção. O registro foi feito por meio de 10 armadilhas fotográficas espalhadas na reserva.

Para Robério, a presença da espécie na Serra das Almas é animadora:

“Um registro desse dentro de uma Unidade de Conservação privada, onde há o compromisso de conservação e um trabalho para inibir a caça, é muito vantajoso, é muito bom para qualquer espécie que esteja dentro dessa Unidade que funciona como um verdadeiro refúgio”.

 

No Clima da Caatinga é realizado pela Associação Caatinga e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.